CAMINHOS E DESCAMINHOS PELA ACADEMIA
UM ESBOÇO DA MINHA CAMINHADA ACADÊMICA
As marcas
preponderantes na minha trajetória acadêmica foram, até aqui, a
imprevisibilidade, a mudança e a contingência. Os caminhos foram sempre
tortuosos, acidentados, nada lineares e certamente multifacetados. Basta dizer
que de 2001 até 2018 foram 8 instituições de ensino, públicas e privadas,
ingressando em 7 cursos diferentes: Lic. Matemática, Lic. Química, Bac.
Teologia, Lic. História, Lic. Filosofia, Gestão Pública (Especialização) e
Direito.
É
evidente que esse emaranhado todo precisa ser explicitado. Inicio dizendo que
não tive a sorte daquelas pessoas que se sentem predestinadas a determinada
área de saber. Nunca consegui “casar” com uma única ciência. Estou sempre a
“flertar” com muitas, “ficar” com algumas e “namorar” com outras. É claro que
esse modo de ser tem a vantagem de promover um olhar interdisciplinar sobre os
fenômenos. Contudo, sofre pelo contato apenas panorâmico com as áreas, já que a
ausência de dedicação longa e constante a um campo específico dificulta o
aprofundamento.
Minha
passagem pela Matemática e pela Química foram acidentes de percurso que se
devem à falta de opções na minha cidade e à imaturidade própria do concluinte de
ensino médio. Os cursos foram escolhidos em razão do desempenho que tive na
educação básica, sem levar em conta os dons e o espírito do futuro
universitário. Cursei apenas 1 semestre no primeiro e 3 no segundo curso.
Aqui
cabe uma rápida digressão para falar do meu percurso como trabalhador. Os
estudos para mim sempre aconteceram na medida e nas condições que o trabalho
permitiu. Jamais tive o privilégio de apenas estudar, nem mesmo no ensino
fundamental. Na busca de sustento e melhoria de vida encontrei no concurso e no
serviço público uma oportunidade. Minha primeira seleção pública foi para estagiário
secundarista na UESB/Jequié, ocasião em que percebi que o estudo poderia
oferecer acesso a trabalhos melhor remunerados e com possibilidade de
aprendizado contínuo. Assim, fui Agente de Pesquisa no IBGE (2002/2003),
Carteiro na EBCT (2003/2005) e Digitador nos Juizados Especiais no TJBA
(2005/2014).
Retorno
ao mundo acadêmico. O ingresso no TJBA permitiu mais tempo e conforto pra
estudar. O espaço mais propenso ao trabalho intelectual e o desafio de novos
aprendizados logo me estimulou ao Direito. Fiz vestibulares para Direito, mas
não fui aprovado. A seguir, outro fator de grande importância na minha vida
acabou redirecionando meus estudos: a experiência religiosa. Formado num
ambiente protestante e sendo um indivíduo inquieto e curioso, decidi estudar
Teologia. Ao mesmo tempo, decidi também estudar História. Cursei paralelamente
História e Teologia, além de exercer o cargo de digitador no TJBA.
Entre
2007 e 2011 vivi um momento muito intenso de desenvolvimento intelectual.
Compreendi que a relevância da academia estava em conhecer a si próprio e ao
mundo, assim como entender de que forma construímos o mundo e ao mesmo tempo
somos construídos por ele. Descobri-me como um estudioso das humanidades, tendo
me dedicado à Teologia, à História e à Filosofia, mas com grande interesse pela
Sociologia, Economia, Ciência Política e Antropologia. Formei em Teologia e Filosofia,
mas não em História, por causa da incompatibilidade com o horário de trabalho.
De
volta à interface com o mundo do trabalho, desejei ser professor e acadêmico.
Fui aprovado no concurso público para professor de Filosofia no Estado da
Bahia. Porém, por razões financeiras, permaneci no TJBA. Fiz mais concursos. Em
2014, tomei posse no STJ como Analista Judiciário - Área Administrativa. Em
Brasília, após muitas dúvidas entre fazer mestrado em Filosofia, fazer concurso
pra Auditor Fiscal do Trabalho ou cursar Direito, decidi pela última opção.
Comecei,
ainda em 2014, no Instituto Brasiliense de Direito Público, excelente
instituição de ensino. Conheci pessoas que me mostraram que o direito poderia
ser mais que mera técnica. Contudo, por conta de problemas familiares, precisei
interromper antes de concluir o 1º semestre. Em 2016, retomei os estudos
novamente, agora no Uniceub, por conta da logística mais fácil. Passei dois
bons semestres no Centro Universitário que já abrigara nomes como Roberto Lyra
Filho.
No
entanto, decidi mais uma vez interromper o curso para aproveitar a oportunidade
de voltar à boa terra e ficar próximo da família. Saí do STJ e fui para o
TRE-BA, na ZE de Ituberá. Quando achei que seria complicado retomar os estudos
jurídicos, a UNEB apareceu com a seleção para transferência externa e aqui
estou desde o semestre 2018.1.
Permaneço
guardando certa impaciência com o formalismo e o dogmatismo do direito. Seu
caráter elitista é outra coisa que aborreço. Também não posso negar que o
estudo manualesco me parece enfadonho. Porém, se as humanidades de modo geral
nos ajudam a compreender o mundo, o Direito permite intervir diretamente na
realidade. A Filosofia, a Sociologia e a História pensam a realidade, mas é o
Direito que produz as decisões que afetam a vida das pessoas. Portanto, prossigo
no Direito considerando que ele é um saber importante para servir ao próximo e
à comunidade.
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